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Espaço generalista de informação e de reflexão livres. Na verdade, o politicamente incorreto afigura-se, muitas vezes, como a mais eficaz solução para se ser humana e eticamente LEAL! Desde 18.ago.2008. Ano XI.
Magalhães e a circum-navegação educativa
A partir de Setembro próximo, os alunos do 1.º Ciclo do Ensino Básico (CEB), mais fielmente conotado com o Ensino Primário, vão experimentar os singulares encantos de um computador encarado como ferramenta de trabalho que enriqueça a prática pedagógica e combata a infoexclusão.
Em boa verdade, as novas Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) já se tornaram imprescindíveis. Para os menos atentos, cumpre alertar que, na actualidade, mais de metade das casas na Europa tem acesso à Internet e quase todas as pessoas têm telemóvel. Ainda assim, a infoexclusão persiste como um dos grandes reptos da nossa sociedade. Quanto maior é a inclusão das TIC’s na nossa vida económica, social e científica, maior é o fosso entre quem tem acesso e quem o não tem. Por isso, a infoexclusão é um tema profusamente discutido na sociedade actual apesar dos persistentes — aliás, inúmeros — aperfeiçoamentos tecnológicos.
Sabemos, porém, que a literacia digital é um desafio que requer mudanças organizacionais e culturais que vão muito além de se ter acesso e saber utilizar um computador. Ter escolas estruturalmente equipadas é um pressuposto sagrado sem o qual a satisfação de tão meritórios empreendimentos se torna inviável.
Em bom rigor, as nossas escolas primárias - tenha sido por negligência do poder local pós-25 de Abril/1974 ou por acomodação de uma geração de docentes pouco comprometida com o futuro - permanecem um parque jurássico difícil de transformar. A menos que se enlatem os petizes em escolas do 2.º e 3.º Ciclos, com prejuízos ao nível da formação pessoal e social difíceis de reparar, o futuro imediato não se compagina com estas louváveis “inovações”. Se durante o inverno, rara é a sala de aula que suporta dois aquecedores a óleo ligados em simultâneo, resta saber como aguentará 22 ou 24 computadores em pleno funcionamento?!...
Numa fria manhã de Janeiro, em salas de aulas com 2 ou 3 tomadas eléctricas, quem prevalecerá: o frio ou o computador?
No mais, esbateu-se a pujança revolucionária d’”o computador português”. Magalhães mais não é do que a versão lusa – ainda que adaptada – do ClassmatePC, introduzido pela Intel em 2006. Aliás, uma visita despretensiosa a www.classmatepc.com possibilitará um conhecimento mais circunstanciado deste computador, com versões de pendor governamental, já lançadas em 36 países (!) como Brasil, Chile, China, Egipto, México, Líbia, Líbano, Rússia, África do Sul, Gana, Argentina ou Grécia.
Cumulativamente, esta – para já – mera distribuição de computadores poderá estar ferida de maior e melhor arrojo. Primeiro, não foi (até ao momento) elaborado e disponibilizado um Caderno de Actividades multi e transdisiciplinares que, não tendo carácter vinculativo, sirva de referencial comum à optimização daquela preciosa ferramenta de aprendizagem em contexto de sala de aula. Segundo, a iniciativa pecará por não ser mais ambiciosa ao não estender o projecto aos dois anos terminais do ensino Pré-escolar que, como está cientificamente provado, possui um capital enorme de adesão bem sucedida. Naquela faixa etária, a intervenção precoce é recomendável porque maximiza o potencial metacognitivo que se encontrará já em período crucial.
Magalhães tem, contudo, a vantagem de facilitar a democratização do computador uma vez que as crianças poderão, no máximo, adquiri-lo pelo valor de 50 €uros. Para quem usufruir do Escalão A da Acção Social Escolar, Magalhães virá de graça. Para os estudantes do Escalão B, o PC custará 20 €uros. Em todos os casos, não existirá a obrigação de aceder à Internet. Para receber este “brinquedo”, as crianças deverão inscrever-se na Web, colocando o código disponibilizado pela respectiva escola, algo que deverá acontecer durante o primeiro período lectivo do ano escolar 2008/2009.
Não querendo comparar esta medida à inócua ambição de adquirir um DVD sem antes possuir televisão, importa reflectir sobre o pragmatismo indispensável à consecução destes projectos, de inquestionável valia. As escolas primárias, note-se, (ainda) não têm direito a porte pago para a sua correspondência, não possuem orçamento próprio e continuam a ocupar a “cauda de um cometa” demasiado complexo para a necessária e há muito reclamada discriminação positiva.
No mais, realce para o mérito de este equipamento vir a ser montado numa nova unidade de produção da JP Sá Couto/Prológica, a edificar em Matosinhos. Em tempos de crise, a criação de novos e mais postos de trabalho é sempre uma boa notícia.
José Manuel Alho*
(* Professor do 1.º CEB, Especializado em Língua Portuguesa; Promotor do Seminário, realizado na sede da Universidade Aberta (em Lisboa), subordinado ao tema “A Internet na Escola do 1.º CEB”
Ingredientes: (para um grupo de amigos em que a cotação do(a) homenageado(a) não vale mais que um lanche pago)
1 litro de Pena;
10 dl de Seguidismo;
15 fatias de Favores em Dívida;
1 kg de Falta de Personalidade;
1 lata de “Tolerância ao Ridículo”;